sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Álvaro de Campos - Biografia

Álvaro de Campos nasceu em 15 de outubro de 1889. Engenheiro, inquieto e sensacionista, representa a parte mais audaciosa a que Pessoa se permitiu, através das experiências mais barulhentas do futurismo português, inclusive com algumas investidas no campo da ação político-social.

Para tanto, fez a adoção do cotidiano através do versilibrismo, integrando-se à civilização da máquina com o dinamismo e a inquietude do pós-guerra (la guerra). Essa atitude comprova a sua consciência moderna do fazer artístico, preocupada com o existencial, e, principalmente, com o aproveitamento do que é possível de se extrair da emoção.

A trajetória poética de Álvaro de Campos está compreendida em três fases. A primeira, da morbidez e do torpor, é a fase do "Opiário", oferecido a Mário de Sá-Carneiro e escrito enquanto navegava pelo Canal do Suez, em março de 1914. A segunda fase, mais mecanicista e Whitmaniana, é onde o Futurismo italiano mais transparece num aclimatamento em terras de Portugal. Nessa fase, Campos seria,

"Um Whitman com um poeta grego dentro.
Pois Pessoa o coloca numa dupla seqüência:
a de uma arte orientada pelo ideal grego
e a dos cantores de hinos a civilização moderna
e sensações por ela provocadas."

É nessa fase onde a sensação é mais intelectualizada. A terceira fase, do sono e do cansaço, aquela que, apesar de trazer alguma coloração surrealista e dionisíaca, é mais moderna e equilibrada se apresenta. É nessa fase em que se enquadram: "Lisbon Revisited" (l923), "Apontamento", "Poema em Linha Reta" e "Aniversário", que trazem, respectivamente, como características, o inconformismo, a consciência da fragilidade humana, o desprezo ao suposto mito do heroísmo e o enternecimento memorialista.

O que se constata, finalmente, é que Álvaro de Campos, a despeito de intelectualizar as sensações e apresentar laivos surrealistas, é a personalidade pessoana que mais se aproximou de uma poesia realista, e, também, quem mais foi marcado pelos caracteres da modernidade.

Alberto Caeiro - Biografia

Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa, em abril de 1889, e na mesma cidade faleceu, tuberculose, em 1915. Passou quase a vida inteira numa quinta de Ribatejo. Lá escreveu O Guardador de Rebanhos e uma parte de O Pastor Amoroso, que não foi completado. No mesmo local, escreveu ainda alguns poemas de Poemas Inconjuntos, vindo este a se completar já em Lisboa, quando lá o autor voltou, já no final da vida. Aliás, da vida de Caeiro não há o que narrar; sua vida e seus poemas se confundem.

Simples, Caeiro parte do zero, quando regressa a um primitivismo do conhecimento da natureza. Mestre de Ricardo Reis e Álvaro de Campos, a eles ensinou a filosofia do não filosofar, a aprendizagem do desaprender. Compôs uma poética da contemplação, hiperbólica, de linguagem espontânea, discursiva, e prosaica, por extirpar do texto, ao máximo, a conotação tradicional. Considerando o mais contraditório dos heterônimos, atinge o poético pelo apoético, ou seja, conota quando denota, já que usa o inusitado.

Este heterônimo pessoano, diante da possibilidade de se infelicitar com o sol, os prados e as flores que contetam com sua grandeza, procura minimizá-los, comparando-os com eles próprios. Nessa redução do mundo, fica mais latente o "nada". Daí ser ele o heterônimo que nada quer. Mesmo assim, enquanto tenta provar que não intelectualiza nada, é que mais intelectualiza entre as personalidades pessoanas, parece usar o raciocínio sem querer demonstrar isso. Daí ser o mais infeliz, por restringir o mundo, além de fugir do progresso e a ele renunciar.

Caeiro faz uma poesia da natureza, uma poesia dos sentidos, das sensações puras e simples. Foi por isso que procurou, na serra, sentir as coisas simples da vida com maior intensidade.

Sendo o mais intelectualizado entre as personalidades pessoanas, Caeiro foi o que menos se preocupou com o trabalho formal do poema. Daí o comentário crítico do seu discípulo Ricardo Reis:
"Falta nos poemas de Caeiro
aquilo que deveria completá-los a disciplina exterior.
Não subordinou a expressão
a uma disciplina comparável àquela a que subordinou,
quase sempre, a emoção e sempre, a idéia."

Como afirma Reis Caeiro, sem muitas preocupações formais, foi o filósofo das personalidades pessoanas. Mesmo o tempo todo não querendo nada e trabalhando o lado mais simples da linguagem, a denotação, conseguiu, de maneira surpreendente, elaborar um inusitado monumento poético.

Ricardo reis - Biografia

Ricardo Reis nasceu em Lisboa, às 11 horas da noite do dia 28 de Janeiro de 1914. Foi discípulo de Alberto Caeiro, de quem adquiriu a lição de paganismo espontâneo. Há informação dando conta de que teria embarcado para o Brasil em 12 de Outubro de 1919. Em Ricardo Reis,

"Há a renúncia de quem atingiu
os píncaros da humana lucidez
e abstrai seus conceitos de impertinência e símbolos
da contemplação voluntária de uma natureza
quem o homem iguala
à essencialidade ideal que lhe basta"

Esse heterónimo pessoano, numa arte poética particularmente sua, procurou sempre o mais alto, o impossível até, para encrostar uma poesia refinada, concisa, elíptica, cunhada em linguagem esmerada e com vocabulário algo alatinado. São ontológicas, suas modernizadas odes horacianas: "Lídia", "Coroai-me de Rosas", "O mar Jaz" e "Sábio é o que se Contenta", todas de 1914. De 1916 são mercantes: "Não a Ti, Cristo" e "Não a Ti, Cristo, Odeio...". Nestas odes, prevalece o apolíneo comprovado por uma moderna consciência do fazer artístico. Muitas delas apareceram primeiramente publicadas na revista Athena e, principalmente, na Presença, sempre indiferentes ao social, mas acentuadamente consciente da efemeridade da vida.

Reis leva o paganismo de Caeiro à sua expressão mais ortodoxa, através de um neoclassicismo neo-pagão consciente, cultivando a mitologia greco-latina. Clássico por excelência, idealista e platônico no amor, constata o efêmero da vida e anseia, no íntimo, por uma fenomenológica eternidade terrena.

Segundo Linhares Filho, sob a perspectiva do ser, pode-se dizer que Ricardo Reis ama o impossível, mas sob a perspectiva do "Parecer", ele

"ama o infinito porque mais do que todos
se apega à vida, desejando-a infinda,
sob a simulação de resignar-se com a transitoriedade."

Como se observa, amando o impossível ou o infinito, Ricardo Reis sempre procurou os píncaros, como a fugir (fingindo) de uma realidade terrena que verdadeiramente queria viver, eternamente.

Fernando Pessoa - Biografia

Nasceu Fernando António Nogueira Pessoa em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, filho de Maria Madalena Pinheiro Nogueira e de Joaquim de Seabra Pessoa.
A juventude é passada em Lisboa, alegremente, até à morte do pai em 1893 e do irmão Jorge no ano seguinte. Estes acontecimentos, em conjunto com o facto de sua mãe ter conhecido o cônsul de Portugal em Durban, levam-no a viajar para a África do Sul. Aí vive entre 1896 e 1905. À vivência nesse país da Commonwealth pode atribuir-se uma influência decisiva ao nível cultural e intelectual, pondo-o em contacto com os grandes autores de língua inglesa.
O Regresso a Portugal, com 17 anos, é feito com o intuito de frequentar o curso de Letras. Viveu primeiro com uma tia, na rua de S. Bento e depois com a avó paterna, na Rua da Bela Vista à Lapa. Mas com o fracasso do curso (frequentou-o poucos meses), governa-se apenas com o seu grande conhecimento da língua inglesa, trabalhando com diversos escritórios em Lisboa em assuntos de correspondência comercial.
Ficou sobretudo conhecido como grande prosador do modernismo (ou futurismo) em Portugal. Expressando-se tanto com o seu próprio nome, como através dos seus heterónimos. Entre estes ficaram famosos três: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Sendo que as suas participações literárias se espalhavam por inúmeras publicações, das quais se destacam: Athena, Presença, Orpheu, Centauro, Portugal Futurista, Contemporânea, Exílio, A Águia, Gládio. Estas colaborações eram tanto em prosa como em verso.
Teve uma paixão confessa - Ophélia Queirós - com a qual manteve uma relação muitas das vezes distante, se bem que intensa. Mas foi talvez Ophélia a única a conhecer-lhe o lado menos introspectivo e melancólico.
O seu percurso intelectual dificilmente se descreve em poucas linhas. É sobretudo o relato de uma grande viagem de descoberta, à procura de algo divino mas sempre desconhecido. Essa procura efectuou-a Pessoa com recurso a todas as armas - metafísicas, religiosas, racionalistas - mas sem ter chegado a uma conclusão definitiva, enfim exclamando que todos os caminhos são verdadeiros e que o que é preciso é navegar (no mundo das ideias).
Os últimos anos são vividos em angústia. Os seus projectos intelectuais não se realizam plenamente, nem sequer parcialmente. Talvez os seus objectivos fossem à partida demasiado elevados... Certo é que esta falta de resultados concretos o deita a um desespero cada vez mais profundo. Foi um profeta que esperava a realização da sua profecia, mas que morreu sem ver sequer o principio da sua realização.
Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, de uma grave crise hepática induzida por anos de consumo de álcool, no hospital de S. Luís. Uma pequena procissão funerária levou o corpo a enterrar no Cemitério dos Prazeres. Em 1988, por ocasião do centenário do seu nascimento, os seus restos mortais foram transladados para o Mosteiro dos Jerónimos em Belém. Em vida apenas publicou um livro em Português: o poema épico Mensagem, deixando um vasto espólio que ainda hoje não foi completamente analisado e publicado.